Extensão Universitária e Mudança de Estruturas Curriculares

Os primeiros registros oficiais sobre Extensão Universitária nos remetem aos idos dos anos 30 quando se percebe um entendimento marcado por modalidades de curso, conferencia, e assistência técnica rural voltada ao progresso da ciência (por meio da pesquisa) e a transmissão do conhecimento, podendo perceber-se um distanciamento do saber popular bem como uma “dicotomia” entre o ensino, a pesquisa e a extensão.Já no início dos anos 60, surge uma nova modalidade de extensão promovida pelo Movimento Estudantil, que discutia os problemas político-ideológicos e a educação no contexto nacional contrapondo-se a práticas assistencialistas e esporádicas que encontravam desvinculadas do projeto acadêmico da universidade.

Porém com a instalação do Estado Autoritário nesta mesma década essas experiências foram interrompidas e em 1966 é criado o projeto Rondon, sob a tutela do Ministério do Interior, que tendo como objetivo colocar os estudantes a serviço do Estado por meio do voluntariado e tirando da Universidade o seu papel problematizador no âmbito das questões político-socias brasileiras, pretendeu-se cooptar os estudantes a aderir ao modelo desenvolvimentista e tecnicista implantado no país naquele momento, que em 1968 através da Lei 5.540, que tratou a Reforma Universitária, vinha a confirmar um caráter de cunho assistencialista, desvinculado a Extensão Universitária do ensino e da pesquisa.

Após esse período de trevas para a democracia nacional, com a Anistia em 1979 e o fortalecimento da sociedade civil na década de 80 a população deixa de ser percebida pela comunidade acadêmica como mera receptora de conhecimento e de práticas produzidas no interior da academia, voltando uma relação transformadora entre a Universidade e as demais instancias sociais, instrumentalizando um processo dialético teórico/prático.

Contudo a flexibilização curricular já tornava-se um tema de discussão, no tocante à inserção dos estágios curriculares como atividades extensionistas tendo como meta fundamental atingir a indissociabilidade entre ensino-pesquisa-extensão que ficou firmado no Artigo 207, da Constituição Brasileira, em 1988, porém que ao lado dos ideais neoliberais, bem como o seu fortalecimento nas décadas de 80 e 90, o processo de “modernização” administrativa universitária passa a basear-se em modelos de práticas gerenciais que buscam “aumentar” a qualidade e eficiência dos serviços prestados, deixando o Currículo limitado a uma “grade”, que passa a valorizar as disciplinas organizadas em regime seriado, imprimindo uma visão linear e rígida de formação adotando o sistema de créditos que fortaleceu um pensamento conservador, liberal, privilegiando a manutenção do status quo, evidenciado no condicionamento da mão-de-obra e fortalecendo o tecnicismo curricular.

A Flexibilização, no entanto, busca substituir a lógica tradicional de organização de currículos sendo necessário o entendimento de que tudo o que se faz ou se vivencia em uma instituição de ensino superior é Currículo, concebendo-o como um processo não linear e rotineiro, onde as disciplinas deixam de ser verdades acabadas a serem repassadas e retransmitidas, fazendo com que a Universidade seja pautada por paradigmas democráticos, transformadores e forçando a instituição uma revisão de seus processos de pesquisa, ensino e extensão valorizando os saberes do senso comum, confrontados criticamente com o próprio saber cientifico, levando em consideração a sua relevância social.

Gustavo Castro

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